Como primeira publicação neste blog e antes de avançar opiniões sobre ideias concretas dos diversos partidos, sinto que devo começar pelo que penso da forma como o debate de ideias e propostas está a decorrer.
O ano de 2009 está a mostrar-se como um ano negro a vários níveis. É um facto.
Na minha opinião, anos como este são momentos raros de sobriedade ideológica e que se apresentam como a altura ideal para repensar o futuro, discutir estratégias, baralhar e dar de novo os objectivos e metas para um país.
Em Julho, pensei que seria isso a que iríamos assistir. A duas semanas das eleições, já vi claramente que estava errado.
Imagino não ser o único neste painel mas a minha profissão passa por digerir números, analisar resultados e estatísticas dos meus produtos e as estatísticas da sua evolução.
Quando necessário, para ganhar o apoio de um cliente, consumidor, plateia, etc., os dados (embora sempre verdadeiros) são criteriosamente escolhidos e alinhados de forma a criarem uma sensação de solidez, umas vezes mais evidente do que noutras, na qual os nossos interlocutores irão tomar a decisão final – Compro ou não compro, acredito ou não acredito.
A isso os membros de lobbys americanos chamam spin, que pode ser também traduzido num português mais simplista como vender a ideia.
Não se trata de mentir. Trata-se sim de dar o tal spin aos argumentos para fazer acreditar. Dizer as verdades que as pessoas querem ouvir para ficarem tranquilizadas.
Quando surgiu uma notícia em meados de Maio, afirmando que a retoma estava à vista porque se registaram mais levantamentos no multibanco do que no período homólogo em 2008 (transcrição o mais ipsis verbis possível) ou mais recentemente, que Portugal saiu da recessão técnica porque a evolução no segundo trimestre foi positiva, não olhando para o que se perdera no 1º trimestre, dando-nos uma falsa sensação de tranquilidade, eis o spin!
Não é necessáriamente verdade, mas também não é necessáriamente mentira!
O exemplo mais recente, observei-o no último debate JSocrates Vs. FLouçã em que boa parte do ataque do actual primeiro-ministro ao líder do BE se baseou na proposta de se retirarem os incentivos fiscais aos PPR e como esta medida iria prejudicar a classe média. Sócrates afirmou várias vezes: “Isto não são Amorins sr. deputado, é a classe média!! O Sr. quer prejudicar milhares de famílias da classe média!…”
Quem me conhece, sabe que discordo com os princípios fundamentais do BE, no entanto, sou o primeiro a admitir que esta proposta em particular faz todo o sentido.
Trata-se claramente de uma armadilha fiscal que incentiva as pessoas menos informadas a perderem dinheiro já que o que ganham nas deduções discais não chegam para suportar o dinheiro que empatam nos PPR. É uma proposta simples e honesta para proteger pessoas menos informadas.
Esta foi uma das principais armas de arremesso do PS ao BE durante o curto debate que foi possível.
No final podemo-nos questionar se o debate ajudou de alguma forma a clarificar os eleitores e se estas são as matérias vitais para Portugal actualmente. Eu considero claramente que não.
Estes são apenas 3 pequenos exemplos de como o spin veio para ficar em Portugal, o espaço que ocupa nos debates e como a máquina do PS é mestre a jogar este jogo.
Poder-me-ão dizer: “Pedro, mas isso faz parte da política!”. Isso está certo e acrescento: que infelizmente faz parte da política em Portugal.
O problema grave da política e do debate de ideias em Portugal é que se observam todos os assuntos com uma perspectiva demasiadamente efémera e imediata.
O vital será sempre convencer os eleitores no momento em questão de que o Governo está a fazer um excelente trabalho, independentemente da veracidade das afirmações.
Mais do que pequenos dados estatísticos de evolução, ou medidas avulso, dadas as circunstâncias em que nos encontramos, os debates têm, isso sim, que ser usados para discussão das diferentes visões partidárias para o futuro de Portugal.
Faz muita falta a este país discutir um rumo a seguir, faz falta ter uma estratégia, um plano.
Uma vez mais, podem dizer-me: “Pedro, estás a ser radical! Discutir um imposto tem repercussões na Economia, discutir a avaliação de Magistrados têm uma implicação na velocidade da Justiça etc. etc.”
Ao que responderia com uma pergunta:
Tanto quanto sabem, qual é o plano em vigor para Portugal?
Ø Que género de País queremos ser?
Ø Quais serão os nossos core values na Economia? Como podemos apoiar e cultivar estas apostas?
Ø Quais serão de facto os investimentos públicos que se alinham com esta estratégia? Porquê?
Ø Até que ponto queremos que o Estado se envolva na Economia? Muito, pouco?
o Qual o papel da Regulação no meio deste envolvimento?
Ø Qual a meta para o nosso serviço social de saúde? Universal?
o Como é que lá chegamos?
Ø Que tipo de Justiça queremos a ver aplicada em Portugal? Severa ou complacente com indigentes que evoluíram para a criminalidade?
Por último: a existir este plano, o Povo sabe-o?
Estas não são questões morais.
Não se comparam minimamente a questões fracturantes como a legalização do aborto, a liberalização das drogas leves ou a aplicação da pena de morte. São questões bastante pragmáticas e às quais é possível responder.
Os debates a que assistimos diariamente não respondem a estas questões. Como se de uma casa se tratasse, falamos de estuque e mosaicos antes de se definirem os alicerces de Portugal.
Faz-se spin e jogo de sombras em contra relógio.Sejamos todos apoiantes do CDS-PP, PSD, PS, CDU ou BE, sabemos perfeitamente que estamos todos insatisfeitos na qualidade do debate a que temos vindo a assistir. Estarei errado?
Yours,
Pedro Moreira
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